Polícia Civil descobre clínica médica em que estudantes atendiam pacientes em Neves

Uma operação da Polícia Civil desarticulou na tarde dessa quinta-feira (11) uma clínica médica no município de Ribeirão das Neves, na Grande Belo Horizonte, onde estudantes de medicina realizavam consultas e prescreviam medicamentos sem a presença de um profissional graduado.
De acordo com a assessoria de imprensa da Polícia Civil, denúncias de frequentadores da unidade médica alertaram a polícia sobre a prática no local. Ao chegar à clínica, que fica no centro da cidade, a delegada Bianca Landau Braile flagrou o momento em que um estudante do último ano de medicina atendia uma mulher. No consultório, os policiais encontraram um bloco de receitas médicas com o carimbo e o nome do profissional responsável pela clínica. O material era distribuído pelo estagiário.
A delegada informou, por meio da assessoria da Polícia Civil, que o responsável pela clínica, um médico especializado em ortopedia, o estagiário e testemunhas foram ouvidos no º DP de Neves. Em depoimento, o médico informou que cobrava R$ 12 pela consulta com os estudantes para facilitar o acesso das pessoas ao sistema de saúde, já que, segundo ele, o serviço prestado na cidade é precário.
O ortopedista disse ainda que sempre está na clínica supervisionando o trabalho dos estagiários, o que foi confirmado por um dos estudantes. As testemunhas ouvidas pela delegada disseram que não sabiam que eram atendidas por estagiários e acreditavam que eles fossem médicos formados. Segundo a Polícia Civil, um inquérito policial foi instaurado para investigar as irregularidades.
Procurado pela reportagem do O TEMPO Online, o Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRMMG) informou que repudia este tipo de atitude e que já instaurou sindicância para apurar a responsabilidade do médico responsável pela clínica. "A prática não não é legal de nenhum ponto de vista. A responsabilidade do médico, dono da clínica, que deixa estagiários usarem seu nome, carimbo e bloco de receitas, tem que ser apurada pelo Conselho", explica o presidente do CRRMMG, João Batista Gomes Soares.
O presidente do Conselho afirma que a abertura indiscriminada de escolas de medicina favorece este tipo de prática. "Já era previsto que este tipo de coisa começasse a acontecer. Há muitos estudantes procurando uma vaga no mercado e, mal orientados pelas faculdades, aceitam passar por este tipo de situação", diz Soares. Ainda de acordo com o João Batista, se o aluno fizesse as consultas acompanhado do profissional, a situação seria permitida. "Ainda assim era necessário um documento formal do médico profissional com a faculdade", afirma.